A análise visual de um gráfico com dados de comportamento, além de ser uma atividade essencial do analista do comportamento, envolve benefícios diversos para o profissional e seus clientes. Por exemplo, plotar dados recém coletados em um gráfico permite decisões clínicas contínuas e de relacionadas às alterações graficamente apresentadas. Uma análise visual de um gráfico deve responder (1) se houve uma mudança socialmente significativa no comportamento (variável dependente) e (2) se esta mudança pode ser atribuída ao tratamento (variável independente). Para isso, é importante que o gráfico obedeça a determinadas regras de proporção (2:3; Parsonson & Baer, 1978) para evitar distorções, tenha um número de pontos suficiente (i.e., quanto mais dados por unidade de tempo, mais fiel ao evento real) e que as escalas nos eixos estejam corretas (Cooper et al., 2020).
Em uma análise visual, é nomeado nível o valor absoluto (média, mediana ou intervalo) de um conjunto de pontos no gráfico em relação ao eixo vertical. A Figura 1 mostra mudanças sucessivas de nível na taxa do responder quando ocorrem alterações sucessivas entre condições de A, B, C e D. A linha azul representa a média dos pontos do gráfico em cada condição. Nota-se, que em A, B e D quatro pontos encontram-se na sobre a linha da média, demonstrando estabilidade no responder.
Figura 1. Nível de taxa de respostas em quatro condições distintas.
Nomeamos variabilidade quando pontos frequentes e sucessivos de um gráfico apresentam grande extensão de variação no eixo vertical. A Figura 2 mostra, na condição A, alta variabilidade em um responder de taxa alta. Nota-se que nenhum dos pontos em A se sobrepõe à linha azul (média). O mesmo ocorre em B, onde se pode observar alta variabilidade. Um responder, porém, de taxa baixa (menor nível que A). Em C, é possível observar um responder de taxa baixa e estável, enquanto em D, nota-se um responder de taxa alta e estável.
Figura 2. Quatro padrões de responder ilustrando variabilidade, nível e estabilidade.
Um alto grau de variabilidade pode indicar que o analista do comportamento não obteve controle suficiente de fatores que influenciam o comportamento. Desse modo, pode ser indicado coletar mais dados, ou buscar por padrões cíclicos de variabilidade para obter previsibilidade. Por fim, a direção na qual um conjunto de pontos de um gráfico se apresenta é denominada tendência. Esta pode ser gradual ou íngreme e indicar aumento, diminuição, ou nenhuma tendência, como mostra a Figura 3.
Figura 3. Quatro padrões de responder ilustrando tendência, zero tendência, nível, estabilidade e variabilidade.
Os pontos do gráfico em A mostram zero (nenhuma) tendência e estabilidade. Em B, nota-se tendência de aumento gradual com variabilidade. Em C, a tendência de aumento do responder é mais íngreme e não apresenta variabilidade. Em D, é possível observar tendência de diminuição sem variabilidade.
Analisar nível, tendência e variabilidade são atividades fundamentais em uma inspeção visual de dados comportamentais na comparação entre condições. Porém, diversos outros fatores e parâmetros podem ser relevantes para uma análise acurada de um comportamento. Além disso, outros tipos de gráficos são frequentemente utilizados na pesquisa e nas terapias baseadas em Análise do Comportamento. Portanto, é importante que o profissional faça um aprofundamento nesse conteúdo através de manuais e textos técnicos da área como Bourret e Pietras (2013) e nas demais referências citadas como complemento a esta leitura.
Dr. Rafael A. Silva.
Referências
Bourret, J. C., & Pietras, C. J. (2013). Visual analysis in single-case research. In APA handbook of behavior analysis, Vol. 1: Methods and principles. (pp. 199–217). American Psychological Association. https://doi.org/10.1037/13937-009
Cooper, J. O., Heron, T. E., & Heward, W. L. (2020). Applied Behavior Analysis (3rd ed.). Pearson Education. https://doi.org/10.14219/jada.archive.2011.0167
Parsonson, B. S., & Baer, D. M. (1978). The analysis and presentation of graphic data. In T. R. Kratochwill (Ed.), Single-subject research: Strategies for evaluating change (pp. 101–165). Academic Press.