Roseli Claro
19/08/2021
Oi pessoal, aqui quem fala é a Roseli Claro. Tenho 50 anos e sou autista. No dia 13 de agosto (semana passada) completei três anos de trabalho no Grupo Método.
Eu queria aproveitar este momento para falar um pouquinho sobre algo que sempre teve muita importância na minha vida: o “pertencimento”.
Sei bem o significado disso: pertencer, fazer parte, estar junto. Hoje me sinto assim, vão notar, se eu não aparecer. Faço parte de um grupo, tenho funções importantes, tenho ajuda, alguém se importa em saber se eu estou entendendo, ou não, o que está acontecendo.
Mas, em muitas ocasiões da minha vida, eu não me senti assim. Não pertencer é duro, machuca, traz isolamento e muita solidão. O fato de não ter amigos não significa não querer ter amigos. Tenho amigos, poucos, verdadeiros e incríveis, esses eu acredito que vou chamar de amigos pelo resto da vida.
Por muito tempo me senti só, muito só, minha família fazia o que as famílias fazem, mas eu queria mais, eu queria sair, eu queria participar. Durante muito tempo, acreditei que eu só iria ver o mundo pela TV, e isso me machucava muito. Eu pensava: porque eu não posso estar lá? Porque vejo o Réveillon pela TV? O que essas pessoas que estão vivendo têm que eu não tenho?
Os últimos três anos foram e continuam sendo muito importantes para mim. Aprendi a falar, aliás, falar eu sabia, mas não sei se queriam me ouvir. Ah… Outra coisa, aprendi a ouvir! Sim, eu também não sabia que as pessoas também tinham algo a dizer e eu deveria ouvi-las.
Dizem que os autistas “têm um mundo deles”, eu não sei se concordo com isso, acho que os autistas querem estar no mundo, sim, neste mundo, onde estamos todos nós, juntos, mas para um autista entender como as coisas funcionam é bem mais complicado.
Nós precisamos de ajuda. Para nós, as coisas, as vezes, não são tão simples, então nos expliquem. Se não deu certo expliquem de novo. Se não funcionou, mostrem, mas, o mais importante, não desistam de nós, não nos deixem sós.